Maracanã, 28 de julho de 1985

Zizinho não era muito de aparecer no Maracanã, mas naquele domingo ele estava lá, na tribuna de imprensa, bem banguense, de camisa vermelha e calça branca. Não foram poucos os que perguntaram se ele torcia pelo Bangu. Zizinho jogou pelo Flamengo, Bangu e São Paulo. Mas com o Bangu, no qual ficou oito anos, Zizinho tinha uma relação toda especial. Ele chegou até a treinar a equipe banguense em 1960 a 1961 e de 1965 a 1966. Na última delas, largou-a nas mãos do técnico Alfredo González, que acabou de preparar a equipe que seria campeã carioca de 1966. Zizinho não iria ver um jogo qualquer: estava no estádio para assistir a segunda partida da semifinal do Campeonato Brasileiro entre o “seu” Bangu e o Brasil de Pelotas. Junto com ele, outros 38 mil alvirrubros já cantavam a vaga na final antes mesmo da bola rolar.

No começo do jogo, quando o Bangu partiu para cima do Brasil de Pelotas, como prometera o técnico Moisés, Zizinho ficou um pouco inquieto ao ver a defesa desguarnecida. Criticou: “Parece que é o Bangu que precisa ganhar”. Mas, na medida em que o Bangu se impunha, com jogadas ofensivas nascidas pelas pontas, ele ia ficando à vontade. Até que o ponta-direita Marinho fez um belo cruzamento que deu no primeiro gol, feito pelo outro ponta, Ado, aos 26 minutos do 1º tempo.
“Agora quero ver quem esconde o Marinho da Seleção Brasileira”, não se conteve o craque, enquanto bandeiras vermelhas e brancas tremulavam, a charanga Furiosa do mestre Tutu atacava e a bateria nota 10 da Mocidade Independente de Padre Miguel, atrás do gol do Brasil, esquentava o ritmo. Era festa no Maracanã!
Os primeiros 45 minutos terminaram com a vantagem do Bangu por 1 a 0 e, como já tinha vencido o duelo em Porto Alegre, o time só perderia a vaga na final do Brasileirão se levasse três gols do Brasil.
A alegria rolava dentro e fora do campo, todas as torcidas solidárias com o Bangu. A festa, na verdade, começara na sexta-feira, quando o patrono Castor de Andrade recebeu, na tribuna do estádio de Moça Bonita, as informações sobre o que estava sendo armado para domingo: a Fábrica de Tecidos Bangu colocara à disposição do clube mais de 10.000m2 de tecido para a confecção de faixas e bandeiras e 50 ônibus levariam os torcedores do bairro para o Maracanã. Há muitos anos não se via tanta gente no treino do Bangu. No bar, alguns contemplavam as fotos da equipe campeã de 1966 e não tinham dúvidas: 1985 seria outro ano consagrado.
Para corroborar o pensamento de todos, aos 23 minutos do 2º tempo, Marinho fez o segundo gol, de “puxeta”, batendo de canela e concluindo um cruzamento de Lulinha, parecia claro que o título nunca esteve tão perto. A torcida não parava de cantar Ziriguidum 2001, enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel.
“Desse mundo louco, de tudo um pouco, eu vou levar, pra 2001, avançar no tempo, e nas estrelas, fazer meu ziriguidum”...
Nem o gol do artilheiro Bira, do Brasil, aos 28 minutos, numa bomba da entrada da área, arrefeceu a animação. O Bangu estava tranquilo. Para ser desclassificado, só se levasse mais três gols nos 17 minutos restantes.
Ainda assim, teve sede de marcar mais um, quando Marinho pegou a bola na meia-lua da grande área, driblou o zagueiro Hélio, deixou para Lulinha, que tocou para Mário, na pequena área. À saída do goleiro João Luís, Mário deu um sutil toque de calcanhar, tirando toda a defesa do lance e deixando Marinho livre para concluir: 3 a 1, aos 32 minutos.
“Bangu e Coritiba na final, pode?” – ironizavam alguns torcedores quando o jogo acabou. Pode sim, senhor. O Bangu passava a ser o segundo time de todos os cariocas, chegando à sua 32ª partida invicta. Como símbolo desse congraçamento, antes mesmo do jogo, a bandinha tocou o hino de cada um dos grandes clubes do Rio. E, como disse Moisés no vestiário, ao receber os cumprimentos calorosos de Zizinho, a presença do Mestre ali era “um prenúncio de que alguma grande coisa vai acontecer no Campeonato Brasileiro”.
Quarta-feira à noite, no Maracanã, em jogo único, aconteceria uma final que entraria na história do futebol brasileiro.


camisa 10 do Bangu
