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1 | x | 1 | ![]() |
BANGU | (5 x 6) | Coritiba-PR |
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Taça de Ouro - Final |
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Maracanã |
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Quarta-feira, 31/07/1985 - 21h30 |
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Cr$ 848.064.000,00 |
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91.527 pagantes |
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Romualdo Arppi Filho |
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Osvaldo Campos e Joel Caires |
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Gilmar, Márcio, Jair, Oliveira e Baby; Israel, Lulinha (Gílson) e Mário; Marinho, João Cláudio (Pingo) e Ado Técnico: Moisés |
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Rafael, André, Gomes, Heraldo e Dida; Almir (Vavá), Marildo (Marco Aurélio) e Tóbi; Lela, Índio e Édson Técnico: Ênio Andrade |
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Dida, Gomes e Rafael (Coritiba); Mário (Bangu) |
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- |
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Bangu 0 x 1: Índio, aos 25min do 1º tempo Bangu 1 x 1: Lulinha, aos 35min do 1º tempo Bangu 5 x 6 (pênaltis): Gílson, Pingo, Baby, Mário e Marinho marcaram para o Bangu. Índio, Marco Aurélio, Edson, Lela, Vavá e Gomes marcaram para o Coritiba |
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Está escrito na história da Taça de Ouro: o Coritiba é o campeão brasileiro de 1985. Derrotou o Bangu por 6 a 5 na decisão por pênaltis, ontem à noite, no Maracanã, depois de um tempo regulamentar e uma prorrogação que terminaram empatados em 1 a 1. Mas no jogo de futebol, na bola corrida, durante os 120 minutos da partida, quem esteve sempre melhor foi o Bangu, o grande injustiçado da noite.
Foi, acima de tudo, o time que mais procurou o gol, enquanto o Coritiba passou o segundo tempo e toda a prorrogação fazendo cera. Depois dos 5 a 5 na primeira série de pênaltis, Ado desperdiçou, cobrando para fora, e Gomes fez o gol que deu o título ao Coritiba.
Bangu melhor
Foi um jogo muito bom em seu tempo regulamentar: o Bangu revelando-se um time mais técnico, de mais toque de bola; o Coritiba, um time mais de força física e bem distribuído em campo. Logo aos 3 minutos, Mário perdeu um gol feito, quando o excelente golerio Rafael salvou nos seus pés. O Coritiba abriu o marcador, aos 27 minutos, cobrando uma falta que Toby sofreu. Índio chutou com violência, sem defesa.
O Bangu empatou 10 minutos depois. Rafael fez grande defesa a córner e, na cobrança, a bola sobrou para Lulinha que enfiou o pé: a bola desviou num zagueiro e enganou o goleiro. O 1 a 1 do primeiro tempo foi justo. No segundo, o Coritiba procurou segurar mais o jogo e o Bangu cresceu, passando a dominar e a buscar mais o gol.
O técnico Moisés atendeu o pedido da torcida e colocou Pingo no lugar de João Cláudio. O Bangu melhorou mais ainda e aos 30 minutos veio o lance discutido: Lulinha passou a Marinho, que livrou-se de Rafael e fez o gol chutando entre as pernas do zagueiro. O bandeirinha Osvaldo Campos correu para o meio do campo, mas Romualdo Arpi Filho anulou o gol.
Na prorrogação, o jogo caiu, sobretudo porque o Coritiba queria visivelmente levar a decisão para os pênaltis e retardava o jogo como podia: o goleiro Rafael levou cartão amarelo por fazer cera. Além de tudo, o time estava cansado. O Bangu dominou completamente, Marinho fez três jogadas excelentes e só não marcou por falta de sorte.
Na série de cinco pênaltis para cada lado, todos os jogadores marcaram: para o Bangu, Gílson, Pingo, Baby, Mário e Marinho; para o Coritiba, Índio, Marco Aurélio, Édson, Lela e Vavá. Finalmente, na segunda série, Ado bateu mal para o Bangu e colocou para fora. O zagueiro Gomes cobrou para o Coritiba e fez o gol da vitória e do Campeonato.
E está mantida a tradição do 33
O Bangu foi campeão carioca em 33 e 66. Será que esta cruel tradição que o persegue, de conquistar títulos importantes de 33 em 33 anos, vai continuar? Ontem, pelo menos, os deuses do futebol, se é que eles existem, estiveram ao lado desta tradição. Se estiver escrito assim, tudo bem, parabéns ao Coritiba campeão, que jogou um futebol frio, defensivo e calculista, e parabéns ainda mais efusivos ao Bangu, que soube atrair ao Maracanã, oficialmente, 91 mil pessoas, mas que o visual do estádio, quase todo lotado, mostrava ser muito mais.
E seus jogadores souberam responder com um jogo de intensa disputa e competição, onde não faltaram lances de rara beleza criativa do início ao fim. Como explicar os gols perdidos? Como explicar a bola de Marinho, que rolou de ponta a ponta sobre a linha do gol, até fugir manhosamente para desespero da torcida banguense? Torcida banguense? Ontem, todo o Rio era Bangu, a impor ao carioca tricolor, flamenguista, vascaíno ou alvinegro a sua cor vermelha e branca. Espetáculo por espetáculo, quem, torcedor de outro time, foi ao Maracanã, não saiu frustado de todo. E junto ao mar de bandeiras brancas e vermelhas, soube juntar o seu grito solidário, empunhando as bandeiras de seus clubes e fazendo soar bem alto seus cantos e sambas.
Fogos coloridos, banda carnavalesca de um lado, baterias da Mocidade Independente (escola de Bangu) estrategicamente colocadas no estádio e, coroando tudo isso, uma lua cheia sobre o estádio (pelo menos no início do jogo). Uma noite carioca e tropical (temperatura ambiente 24°) a cobrir um jogo eletrizante e que, em momento algum, deixou o Maracanã sequer parar para pensar. Então, parabéns uma vez mais ao Bangu, o time que fascinou o carioca.
Ado pede perdão
- Me vendam, me vendam, por favor. Eu não posso mais enfrentar a torcida do Bangu. Estou arrasado, o destino não pode ser tão cruel assim comigo. Como posso voltar a encarar as crianças de Bangu, sendo o culpado pela derrota?
O desabafo desesperado no vestiário do Bangu, logo após a derrota, nos pênaltis, para o Coritiba, foi de Ado, o mais aplicado batedor de penalidades, de uma hora para outra transformado em protagonista principal de uma cena dramática. Mesmo sendo consolado por todos os companheiros, não parava de lastimar.
- E a minha família. Minha mãe, meu pai, a todos eu peço perdão, sei que eles vão me consolar quando eu chegar em casa, mas, na minha carreira, vai ficar para sempre esta marca. Nunca mais vai me abondonar. É terrível, não posso acreditar que esteja sendo protagonista desta tragédia.
De tão comovente a cena, Mário, também aos prantos, abraçou-se a Ado tentando consolá-lo:
- Ado, vamos em frente, a nossa jornada ainda não terminou. O Bangu vai voltar a ser novamente grande no Campeonato Estadual. E nem este juiz poderá nos prejudicar desta vez. Foi ele e não você quem perdeu o jogo.
A decepção de Marinho
Todos choraram. Ado estava inconsolável. No seu desespero, falou até em parar de jogar futebol. Mário também sentiu muito a derrota nos pênaltis. De todos, o mais controlado era Marinho, justamente a grande estrela da equipe e que teve a chance de decidir o jogo, no gol anulado por Romualdo Arpi Filho:
- O gol foi legal. Tenho certeza. Eu vim de trás. O bandeirinha também achou, tanto que correu com a bandeira arriada. Até o Rafael pensou que a jogada estivesse correta. Saiu em cima de mim com decisão. Só o juiz viu o impedimento - lamentou Marinho.
Apesar do abatimento, Marinho fez questão de elogiar a equipe:
- O Bangu mostrou que tem um time para ser campeão. Foi o melhor de todos. O Coritiba jogou pensando apenas no empate, para decidir nos pênaltis. O Gilmar não teve o menor trabalho.
Para Marinho, a decisão por pênaltis não representa a melhor solução:
- Sempre acontece isso. O time melhor chega nos pênaltis desanimado, porque lutou para vencer no tempo normal. O outro, não. Já estava preparado para este tipo de decisão. E acaba vencendo.
Mesmo sem esconder o abatimento, o técnico Moisés, do Bangu, era a pessoa mais forte, depois da derrota, no vestiário. Sua preocupação era pensar no futuro, falar do Campeonato Estadual que começa no fim do mês e expressar sua certeza de que o time do Bangu será melhor ainda nesta próxima competição.
Moisés lembrou que sua equipe ainda é jovem e por isso acredita que os jogadores, daqui a uns quatro dias, já estarão recuperados do trauma que foi a derrota de ontem nos pênaltis. Sua atenção se voltava mais para o ponta-esquerda Ado, que perdeu o pênalti e estava completamente transtornado, dizendo inclusive que pretende abandonar o futebol. Moisés fez questão de abraçá-lo no vestiário, dando-lhe total apoio. Disse que Ado tem apenas 22 anos e que alegrias e decepções fazem parte da vida.
Quanto ao jogo em si, Moisés achou que o time esteve muito bem, procurou o gol insistentemente.
- Meu consolo - disse ele - é que o jogo foi transmitido pela televisão para o Brasil inteiro e todos viram o espetáculo. Acho que ninguém tem dúvida da superioridade do Bangu na decisão. Gilmar quase não fez defesas, enquanto o Bangu teve várias oportunidades de gol. Além disso, o goleiro deles, Rafael, foi um dos melhores jogadores em campo.









(Da esquerda para direita) Em pé: Marinho, Jair, Oliveira, Baby, Márcio Nunes e Cléber(Preparador Físico); Agachados: Gilmar, Lulinha, João Cláudio, Mário, Ado e Israel.